segunda-feira, 20 de julho de 2015

"Numa roda de choro" terá exibição no Espaço Garrincha nesse sábado


Do nossa relação com as diversas manifestações culturais da periferia, nas quais participamos, veio a ideia de começar a retratá-las no cinema. Além de um filme experimental sobre samba (Bamba de Vila, já lançado), fizemos um sobre viola caipira e nordestina, mais trabalhado (Viola Urbana, em processo de montagem) e outro sobre choro. "Numa Roda de Choro" terá exibição esse sábado no Espaço Cultural Mané Garrincha, em Sp.

O filme surgiu do contato com Luis Macambira, pertencente a uma tradicional família de choro, há anos ele usa seu quintal para reunir artistas populares numa roda descompromissada. Diversos clássicos do choro e do samba são relembrados entre cervejas, petiscos, risadas, discussões. São amigos que gostam de música boa. E isso é o que os move.

Antes a roda era composta pela velha guarda da família Macambira: os tios de Luis, que tocaram com grandes nomes da música brasileira como Arauto Santos e Paulo Vanzollini, costumavam juntar artistas de peso no seu quintal. A nova geração não deixou de lado e assumiu o posto, outros nomes passaram a marcar presença e mantém viva a roda que ocorre praticamente toda semana no bairro Inocoop, cidade de Guarulhos, grande SP.




Roda de choro na casa de Luis Macambira em 2002


Quando chegamos para as filmagens, trazíamos na bagagem, além do gosto pela cultura da quebrada, as referências do cinema novo, sobretudo de Leon Hirszman, que fez diversos filmes sobre cultura popular, a câmera na mão foi nossa proposta estética principal, a lente estaria lá dentro da roda, como mais uma participante do processo.

Luis Macambira, com seu gênio forte, já saiu dizendo "- Pode filmar essa bagaça que aqui é nóis, música boa é o que não falta!" E já mandou descer uma cerveja pra equipe, apresentou um cara do bandolim: "- Esse é bom!", tomou uma dose de cachaça e relembrou histórias dos discos gravados pelos seus antepassados. Depois nos alertou " - Quero ver o que você vai editar, vê cê não coloca todas as merdas que a gente fala!" Após algumas gargalhadas, expliquei que o roteiro era livre, entraríamos na roda, às vezes com algumas perguntas, mas dispostos a filmar o que fosse acontecer e que não precisava se conter, o filme pedia a liberdade daquele encontro. Estávamos em casa e tínhamos a certeza de que ali se unia a música e o cinema.

Gravamos 8 horas de arquivos que viraram 32 minutos. Para nossa grata surpresa, além das peças de variados compositores, a roda virou um acirrado debate acerca da identidade cultural brasileira, as influências que permeiam nossa música, a relação com o processo histórico, a mídia... Enquanto a cerveja continuava na mesa e a alma nas mãos.

No processo de montagem, ainda criamos a figura de um poeta boêmio pra homenagear a beleza do choro: "O meu choro desaguou numa roda de choro, fiz do samba meu coro, nas cordas do batuque, na batida do violão, toca meu consolo, minha canção".

Produzido pela Companhia Bueiro Aberto em co-produção com a Barreto Filmes, a película foi feita sem recursos e de forma totalmente independente. Teve sua estreia na própria casa de Luis Macambira e agora será exibido no Espaço Garrincha,

DATA: 25/07, Sábado
HORÁRIO: 19 hrs.
LOCAL: Espaço Cultural Mané Garrincha
ENDEREÇO: Rua Silveira Martins, 131, sala 11, Sé (próxima à saída pelo poupatempo do metrô Sé)






ROTEIRO E DIREÇÃO: Daniel Neves
PRODUÇÃO: Diogo Fonseca
DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA: Jimmy Andrade
MONTAGEM: Daniel Neves
EDIÇÃO: Ton Neves

ANO DE PRODUÇÃO: 2015
DURAÇÃO: 32 minutos

TEXTO ESCRITO PELO DIRETOR DANIEL NEVES

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