terça-feira, 30 de junho de 2015

Mostra Marginal de Curtas exibirá mais duas produções guarulhenses


No próximo sábado, 04 de Julho, a Mostra Marginal de Curtas no Sarau Carolina, organizada pela Companhia Bueiro Aberto em parceria com o Jornal Dialética, mantém sua tradição de exibir produções guarulhenses em mais de 1 ano de estrada (com 26 curtas apresentados), entre clássicos como Glauber Rocha, Jean Luc Godard e obras atuais periféricas e locais.


O SEXTO SENTIDO DO MUNDO

O primeiro curta a ser exibido é a estréia do mais novo vídeo-poema da Companhia Bueiro Aberto, "O sexto sentido do mundo", baseado no livro homônimo do poeta Júnior Bezerra, publicado pelo Selo Jornal Dialética. Seguindo nossa mistura de cinema e literatura, o curta adentra a crise existencial que caracteriza a poesia em questão e que é recorrente na escrita do autor, o conflito com a sociedade, o mundo, a poesia, consigo mesmo, tendo forte raiz nos textos de Carlos Drummond de Andrade.

Filmado no Lago dos Patos, ponto com relevante natureza na cidade de Guarulhos, observamos o poeta em contato com as árvores, as flores, o lago, e, por outro lado, com o concreto, as ruas, os muros, os carros, numa mistura que reflete a contradição expressa nos versos. Como se o mundo tivesse um sexto sentido, criado pela poesia e pelo cinema, a arte que pulsa, que se incomoda, que vive...

Porém, essa união entre palavra e imagem só se completa com a presença da música, formando uma tríade integrada, o som suave que o poeta pode contemplar e refletir com seus versos. O violão de Diogo Fonseca (já presente em outros vídeos-poemas da Companhia Bueiro Aberto) se junta à gaita do poeta e músico Giba Loreto (Jornal Dialética), como diziam os antropófagos: "A salada está pronta".

DIREÇÃO: Daniel Neves e Diogo Fonseca


SE A CIDADE PARAR

O segundo curta é uma super-produção nos moldes marginais, "Se a cidade parar" reúne diversos artistas da cidade de Guarulhos em cenas de manifestação, repressão policial, trânsito, exploração do trabalho. Tudo isso feito sem recurso, através da improvisação e da criatividade do cinema independente, como na cena da manifestação em que a falta de atores obrigou a se optar por planos mais fechados que dão à impressão desejada de uma multidão.

Mas não se engane se acha que encontrará um curta-metragem com história linear, classificado no gênero da ficção, "Se a cidade parar", antes de qualquer coisa, é um clipe da banda guarulhense "Carbônica". Mas traz a caracterização estética de outros clipes dirigidos por André Okuma, um deles, inclusive, exibido na Mostra Marginal de Curtas do ano passado. Sua preferência por trazer a marca do cinema rompe com a estrutura fechada dos vídeo-clipes comerciais e tradicionais. A roteirização cinematográfica permite que a música esteja em diálogo com a história, não se trata apenas de uma tradução da música, mas da criação de algo novo que a complementa e a afirma na proposta audiovisual. Talvez um "curta-clipe".

DIREÇÃO: André Okuma










O sexto sentido do mundo

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Democracídio terá exibição em Recife


Há cerca de dois anos começamos a rabiscar o projeto de Democracídio. Gostávamos de cinema e o víamos como uma voz de crítica social, gravávamos esporadicamente, mas mesmo assim nos veio a nada pretensiosa ideia de começar com um longa-metragem, ainda mais sobre tema tão amplo. Depois de idas e vindas, arriscamos, descobrimos as funções da câmera, as atribuições de uma equipe, tudo na prática da filmagem sem ter tido qualquer curso ou experiência num set profissional.

A proposta era de debater a democracia no Brasil a partir de movimentos autônomos e radicais, fora do aparato politico tradicional. Tais movimentos estiveram na linha de frente das manifestações de Junho de 2013, em SP, incluindo um professor, um cineasta e um rapper-escritor.




Entrevista com o professor de filosofia Edson Teles, ex preso-político


Apesar da nossa ferrenha oposição ao tipo de democracia que vivemos, colocamos tanto a visão dos que acham o modelo uma pura e simples ditadura como aqueles que dizem ser uma democracia autoritária. De qualquer forma, o ponto central é que a democracia se mostra com uma aparência, uma máscara que esconde a violência cotidiana contra o povo da periferia. O governo do povo que ataca seu próprio povo. Ao longo do processo, descobrimos como a própria democracia poderia ser, de certa forma, uma alternativa, a ideia de democracia popular, horizontal, diversa da que está aí.




Entrevista com o Coletivo Perifatividade, periferia de SP


Além do tema polêmico, tínhamos em mente a defesa do cinema de quebrada, que discutisse esteticamente os gêneros cinematográficos. Por isso, mesclamos depoimentos com montagens de arquivo e cenas de ficção. Surgiu o deputado Carlos Magno e o jornalista Orlando Maquiavel, figuras sarcásticas do poder dominante. Apareceu um poeta que propôs fazer um filme contra a violência, a câmera virou arma tirada da cintura. No fim, Glauber Rocha levanta uma politica libertária na época em que o Brasil vivia a abertura para a suposta democracia. 



Deputado Carlos Magno conversa com Orlando Maquiavel antes do início do programa


Foram muitas batalhas, sem qualquer recurso, conseguimos finalizar "Democracídio". Por curiosidade, o filme estreou na época das eleições, uma intensa polarização política que, como está na película, reflete dois lados da mesma moeda. Na imposição dos que mandam aos que obedecem, PT e PSDB cumprem idêntico papel, servem aos mesmos grupos que permanecem no poder em toda história do Brasil.

Pecamos na difusão, outro lado do cinema que descobrimos, a dificuldade de distribuição. Contudo, o filme foi exibido no III Festival Internacional de Filmes Anarquistas de São Paulo. A boa recepção rendeu frutos e o filme foi um dos selecionados para a Mostra Itinerante do Festival na cidade de Recife.

Nessa sexta-feira, 12/06, Democracídio será exibido no primeiro dia da Mostra. O Festival é a prova de que o cinema independente pode sobreviver à grande mídia.

http://heyevent.com/event/d6eqdivxhlpdwa/mostra-internacional-de-filmes-anarquistas-itinerancia-do-festival-anarquista-e-punk-de-sp