quarta-feira, 18 de junho de 2014

A Cidade, video-poema da Companhia Bueiro Aberto


Produzido a partir do poema A Cidade, retirado do livro Um Verso na Maquinaria, de Daniel Neves, esse vídeo-poema discute o caos em que se insere o nosso modelo urbano atual capitalista: o culto das mercadorias e o rumo ordenado peo lucro que constrói uma vida sem sentido. Enquanto a cidade amanhece, é como se a máquina acordasse junto com os homens e o cotidiano de opressão mantivesse seu poder. Do religioso ao especulador, do político aos produtos, o objetivo é o mesmo, a rapidez sem direção, o vazio. Narrado na perplexidade do poeta, um ser estranho a esse mundo que só tem como reação a incompreensão.

O poeta se une ao músico e a arte fala da contradição social. Com a música de Francisco Tárrega, interpretada por Diogo Fonseca, importante músico guarulhense, a poesia recorre à música e ao cinema para lançar seu grito de desespero e de resistência: o que acontece nessa terra?





A Cidade

A cidade amanhece,
o cartão é a obrigação,
a máquina enlouquece,
o trabalho repetição.

A cidade amanhece!
E quanto a vida?
Enquanto a vida
é vendida num papel,
o engravatado
levanta as mão ao céu.
Os fiéis, ajoelhados,
compram de olhos fechados,
o deputado
sorri para o holocausto,
o médico
 condena seus doentes,
o padre
dá a benção ao presidente.
E a cidade amanhece!

A cidade amanhece!
Com ela,
a senzala
expõe sua sofisticação,
as catracas
enfileiram a multidão,
a fumaça
dita o descompasso.
E a guerra
é oferecida nas vitrines.

A cidade amnhece!
E o poeta, o poeta,
entre perdas no caminho,
tropeça em pedras, perdido:
Meu Deus inexistente,
o que acontece nessa terra?

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